quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Crônicas - E se os zumbis viessem a existir?




Era o ano de 2037. O Brasil vivia seu ápice de país emergente, – um dos principais exportadores de petróleo, água e comida de todo o mundo – todavia, o futuro desse grande império e sua população corriam grande perigo. O problema iniciou quando um sistema eletrônico de reprodução de imagens e sons instantâneos começou a ser um dispositivo razoavelmente importante, não só da sala de estar das residências, mas também do quarto, da cozinha e, inclusive, dos bares, das lancherias e dos ônibus do país.
Criaram até um museu para o aparelho denominado televisão. A programação era repetitiva, pouco inteligente, muito dificilmente útil e deixava a todos inertes e incomunicáveis, isto é, uma epidemia maléfica. Se nenhuma solução fosse encontrada para tirar as pessoas desse estado de apatia, todos teriam o mesmo triste e trágico destino: tornariam-se zumbis.
As consequências do uso do aparelho não tardaram e os primeiros efeitos do problema começaram a aparecer quando, em uma demonstração pouco admirável de afeto, o apresentador do Jornal Nacional mordiscou o pescoço de sua colega ao vivo durante o telejornal. O país não entendeu se esta seria mais uma mudança comportamental do século XXI ou, quem sabe, simplesmente não sabiam do término dos comerciais.
Um famoso crítico, como de costume no país, disse ironicamente que eles queriam, também como de costume, ser capa pela 62ª vez da Revista Caras. O fato tomou proporções razoáveis após a meia-noite, momento em que a Rede Globo de Televisão revisou a programação, adicionando mais de 18 horas diárias do clássico Vale a Pena Ver de Novo. Se o dispositivo já era maléfico, com a nova programação, a coisa ficaria ainda pior. Suspeitas de conspiração logo surgiram: o que a toda poderosa estaria tramando?
No Rio de Janeiro ninguém anunciava os violentos ataques que ocorriam em favelas, parecidos com a represália feita pelo grupo de operações especiais Bope, exército e polícia 27 anos antes, em 2010, mais precisamente. Ao contrário do que acontecera no passado, o ataque desta vez vinha da parte dos moradores mesmo, e não consistia apenas em afugentar traficantes, mas sim em trucidá-los. Dezenas de chefes do tráfico foram ironicamente lavrados na Rocinha. Uma verdadeira carnificina. No primeiro dia, traficantes foram expulsos literalmente a mordidas do Morro dos Macacos e, em menos de 24 horas, o Complexo do Alemão já havia sido sitiado pelo que parecia ser um bando de homens e mulheres usando um forte batom Nívea vermelho, segundo repórteres.
O mundo não sabia e a TV não anunciava, mas estava comprovado: o aparelho era mais do que maléfico, era letal.
Em São Paulo, o de sempre: trânsito parado na Marginal Tietê e pessoas comendo umas as outras em plena Dutra. No Rio Grande do Sul, não era churrasco nem nada, mas os jogadores abocanhavam uns aos outros logo após um pênalti marcado contra o Grêmio em um clássico Grenal.
No Theatro São Pedro, o pianista, que assistira a alguns segundos de uma minissérie a pedido da mulher na noite anterior ao concerto, decidiu desistir de Mozart e, literalmente, atacar em pianíssimo a 9ª fila da plateia. Muitos pediram Bach nesse momento.
Não demorou muito para que manchetes, estampadas em todo o mundo anunciassem que o país do futuro, infelizmente, não iria resistir ao Carnaval de 2037. O motivo? Ninguém sabia. Estava tudo certo, as TVs estavam ligadas, todos assistiam tranquilamente e então, de repente, tudo mudou! Eles simplesmente não percebiam. Segundo os mais sensacionalistas, a culpa era do governo e da falta de comida nos lares brasileiros, que sem alimento não tinham outra opção a não ser comer uns aos outros. Essa era a razão pela qual brasileiros pareciam zumbis ao se espalharem por carnavais, festas e cidades, principalmente nos trios elétricos e sambódromos.
A catástrofe continua e, até agora, nenhuma emissora ou empresa se responsabilizou pelo ocorrido. A 7ª presidenta do país está sendo tratada na Argentina devido às mordidas que levou do Ministro da Economia. O Ministro da Saúde ainda não foi encontrado e, infelizmente, os Ministros da Cultura e da Educação também assistiam TV.

1 pitacos:

Bethânia disse...

muito legal!! imagino o William Bonner 'mordiscando' a Fátima... hahaha

Postar um comentário

Dê um pitaco e faça um blogueiro feliz!