quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Pesquisas/Artigo - EXPLORANDO A ORALIDADE: RESSIGNIFICANDO A PRODUÇÃO TEXTUAL



Alex Sandro Maggioni Spindler
Camila Mariana Schuch
Jéssica Schmitz
Joseane Carina dos Santos
Júlia Regina dos Santos Cunha
Kauana Vanset
Kátia Beatriz Moller de Castro
Maristela Leila Bauer Zimmermann
Solange Catarina Schmitt Mentz

Eixo 2 - Relatos de experiências em oficinas e salas de aula
Universidade Feevale – Subprojeto de Letras

1.             Os primeiros passos
A partir de outubro de 2010, os bolsistas do PIBID Letras, da Universidade Feevale, atuaram no Ensino Médio, em três escolas da rede estadual: Escola 31 de Janeiro, em Campo Bom; Escola 8 de Setembro, em Estância Velha, e a Escola Borges de Medeiros, em Novo Hamburgo/RS. Inicialmente, os bolsistas ficaram um tanto retraídos, pois estavam mudando o ponto de vista – de alunos/acadêmicos para “professores”. Assim, foi necessário muito planejamento e muito estudo, para elaborar os planos de aula e ir ao encontro dos anseios dos alunos da escola.
Por meio de breve pesquisa, identificou-se as realidades social e escolar dos alunos. Com base nesses dados, criaram-se situações de aprendizagem em sala de aula, em que o aluno pudesse desenvolver as habilidades oral, escrita, de escuta e de leitura da língua materna, a fim de que tenha maiores chances de êxito em sua inserção social. Para que houvesse a identificação dos alunos com a proposta de trabalho dos bolsistas, aproximaram-se ao máximo as atividades desenvolvidas à realidade dos alunos. Com isso, observou-se que, quando o ensino é voltado para o uso e o contexto de aprendizagem, os alunos participam mais, pois encontram sentido na interpretação e na produção textual, seja escrita ou oral. A partir disso, este trabalho tem como objetivo o relato dessa experiência.
2.             Colocando o projeto em prática
O primeiro passo foi conhecer a escola, como a biblioteca, as salas de aula, laboratório de informática, o ginásio de esportes entre outros, além de observar o comportamento dos alunos em momentos de interação. Posteriormente, o primeiro encontro com os alunos teve como objetivo convidá-los a participarem das oficinas que seriam realizadas uma vez por semana no contra-turno escolar. Esse encontro, na Escola 31 de Janeiro, surpreendeu os bolsistas, pois compareceram quase cem participantes. Os professores interpretaram cenicamente diferentes crônicas, como, por exemplo, Grande Edgar, de Luís Fernando Verissimo. Logo após, foi realizada uma breve interpretação do texto, e, em seguida, os alunos puderam fazer sua primeira produção escrita no projeto. Essa produção textual foi analisada e serviu de base para o desenvolvimento das atividades posteriores.
O grupo de bolsistas dividiu-se para a realização de duas oficinas paralelas - Comunicação Social e Clube de Literatura -, para que os alunos pudessem escolher a área de seu maior interesse. Na oficina de Comunicação Social, inicialmente, o debate centrou-se na definição de comunicação social, além de ter sido combinado o desenvolvimento das aulas e a partir de quais meios de comunicação. O primeiro projeto foi desenvolvido sob o título O jornal na sala de aula, com o objetivo de analisar e compreender a organização do jornal impresso, considerando a importância e a acessibilidade desse meio, pois levar o jornal para a escola é trazer a realidade para as aulas e permitir que os alunos tenham consciência dos fatos, falem sobre eles, opinem e até desejem criar uma nova realidade para o mundo em que vivem. Para isso, foi estudado o gênero notícia, quando os alunos observaram as características e a estrutura do gênero e, posteriormente, produziram uma notícia a partir de manchetes bizarras. O resultado foi bastante positivo, pois os alunos produziram textos muito criativos e também participaram ativamente dos debates propostos contribuindo com desenvolvimento da atividade. Essas notícias bizarras foram corrigidas e postadas no blog do projeto (http://pibidletrasfeevale.blogspot.com).
Para observarem as características, as diferenças e as semelhanças entre gêneros jornalísticos, os alunos tiveram acesso a cinco jornais: Zero Hora, Diário Gaúcho, Jornal NH, O Sul e Folha de São Paulo. A turma foi separada em cinco grupos, e os jornais foram sendo trocados para que todos pudessem conhecê-los e analisá-los. Os alunos foram auxiliados em suas observações e colaboraram com o debate, expondo suas ideias. Em seguida, o foco foram as diferenças na linguagem jornalística e, para isso, compararam a mesma notícia nos cinco jornais. Após, receberam o texto Chapeuzinho Vermelho na imprensa – Diferentes maneiras de contar a mesma história, que exemplifica, de maneira divertida, como diferentes veículos de comunicação divulgam a mesma história.
A partir das observações dos alunos nas últimas oficinas, os educandos foram desafiados a produzir um gênero jornalístico, com o tema “Escola”, para a elaboração de um mural-jornal que ficaria exposto nas dependências da escola. Foram produzidos dois murais. O resultado dessa atividade foi bastante compensador, pois os alunos se empenharam na produção de seus textos, buscando informações para suas reportagens, tirando fotos para a coluna social ou para a coluna de moda da escola, produzindo charges, selecionando as melhores fofocas, recolhendo dicas de livros e de filmes... Os alunos se esforçaram muito e tiveram reconhecimento pelo seu trabalho, pois todos na escola tiveram a oportunidade de se informar sobre o que rola na escola.
A diferença entre o jornal impresso e telejornais e programas de entrevistas foram analisados a seguir, quando foram analisados aspectos como a postura, a linguagem, a vestimenta. Os alunos receberam, então, a tarefa de montar um jornal falado, atividade para a qual escolheram realizar um jornal no estilo do Jornal do Almoço, da RBS TV. Cada grupo ficou responsável por um assunto e o resultado desse trabalho foi filmado e editado pela TV Feevale.
As oficinas do Clube de Leitura enfocaram os gêneros crônica e conto, os quais foram abordados de maneira bastante diversa. Foram analisados textos dos autores Luís Fernando Verissimo, Edgar Allan Poe, Martha Medeiros, Stanislaw Ponte Preta, Davi Coimbra, Horácio Quiroga e Hans Christian Andersen, entre outros. Também sempre foi valorizada a produção de textos escritos e orais, observando a coesão e a coerência. Após a interpretação das crônicas os alunos debateram as questões apresentadas nos textos, sendo estimulados a expressar oralmente suas idéias, sempre respeitando o outro.
A análise textual também destacou a intertextualidade e a relação dos textos com o cotidiano dos alunos. Segundo Bahktin,
A orientação dialógica é naturalmente um fenômeno próprio a todo discurso. Trata-se da orientação natural de qualquer discurso vivo. Em todos os seus caminhos até o objeto, em todas as direções, o discurso se encontra no discurso de outrem e não pode deixar de participar, com ele, de uma interação viva e tensa (Bahktin, 1988, p. 88).
As dinâmicas de sensibilização e de interação foram igualmente uma constante nas oficinas e contribuíram não só para o bom relacionamento do grupo, mas também para a produção textual, havendo sempre uma boa aceitabilidade por parte dos alunos. Proporcionaram situações de desinibição, importantes para a atividade de leitura dramática das crônicas, quando interpretaram o sentido dos textos. Essa atividade também foi filmada e editada pela TV Feevale.
Ambas as oportunidades foram muito significativas tanto para os alunos da escola como para os bolsistas PIBID, sendo que todos estavam ansiosos e até nervosos com as filmagens. Após, o resultado foi avaliado pelos participantes, que puderam, assim, analisar seu desempenho nas diferentes situações de comunicação, refletindo sobre sua linguagem, postura, vestimenta, enfim, a adequação ao que se propunha.
Importante destacar ainda que, foram proporcionadas situações de aprendizagem em que o aluno pudesse desenvolver o adequado uso da língua materna, tanto na modalidade escrita quanto na oral. Nesse sentido, levando em consideração que o aluno é um indivíduo em interação com a sociedade, a teoria psicológica interacionista, de Lev Vygotsky, sugere que se situe “a transição da influência social fora do indivíduo” para a “influência social dentro do indivíduo”. Para o estudioso, “o caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa”. Portanto, o sujeito do conhecimento “não é apenas ativo, mas interativo”. (BRAGA, 2010, p. 25).
Cabe ressaltar ainda que o objetivo principal desse projeto é proporcionar aos alunos o conhecimento dos mais diversos gêneros textuais, com variados estilos, para que percebam o quanto a língua pode ser diversa. Assim, desenvolverem a habilidade oral do uso da língua, bem como a leitura, a escuta e a produção de textos, em diferentes situações de interação, a fim de que tenham maiores chances de êxito em sua inserção social.
3.      Considerações Finais
O PIBID permitiu o estreitamento entre as concepções teóricas da linguagem às situações comunicativas mais elaboradas que exigem o domínio de outros códigos, como o social. Constatou-se também que a oralidade é muitas vezes pouco valorizada ou até mesmo praticada de maneira insuficiente no ambiente escolar. O trabalho com as oficinas de Comunicação Social e Clube de Leitura permitiu o reconhecimento da importância da valorização da prática da oralidade em sala de aula. Através das oficinas realizadas, foi possível perceber aspectos importantes no desenvolvimento e crescimento dos alunos, que perceberam a importância das atividades, uma vez que fizeram sentido para eles. Além disso, perceberam a necessidade de se expressar oralmente com competência para sua melhor inserção social e melhoraram seu desempenho escolar, até porque houve melhora da autoestima.
Vale ressaltar, também, a importância do projeto para os bolsistas participantes, pois muitos não haviam tido, ainda, experiência em sala de aula. O resultado foi muito gratificante e valioso, a troca de mútuas experiências tem grande impacto no desenvolvimento dos bolsistas no mundo acadêmico, pois, com o projeto, puderam colocar em prática as teorias estudadas e, assim, valer-se dessas experiências para projetar-se de forma mais concreta para o futuro. Essa experiência permite o desenvolvimento de uma nova didática em sala de aula, que atenda, de fato, às necessidades do indivíduo, propiciando melhora na sua relação com a sociedade.

Referências
BAKHTIN, M. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1988.
BRAGA, Elizabeth dos Santos. A constituição social do desenvolvimento. Revista Educação. História da Pedagogia. São Paulo: Ed. Segmento, Ago. 2010.

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