segunda-feira, 21 de novembro de 2011

10 Perguntas e Meia para Escola da Ponte (Orientadores Educativos)

Enquanto pesquisávamos alguns assuntos para a entrevista com Rubem Alves nos deparamos com uma visita que o escritor fizera a Escola da Ponte em Portugal, que gerara alguns textos e um livro1. O que nos chamou a atenção foi a irreverência da escola, sem separação de turmas e sem campainhas anunciando o inicio e fim das disciplinas. Todos compartilham um mesmo espaço, fazem partes de grupos de crianças de idades diferentes e aprendem uns com os outros. A Escola da Ponte surgiu na década de 1970 com o desejo de fazer uma escola que respeitasse as diferenças individuais dos alunos. Nessa entrevista a Orientadora Educativa Paula Fonseca destrincha o projeto de forma apaixonante e nos faz acreditar que podemos reinventar o que chamamos de Educação.

1. O método da Escola da Ponte pode ser aplicado em qualquer país de qualquer cultura? Que tipo de investimento é necessário para esse projeto?
A filosofia que enforma o Projeto “Fazer a Ponte” pode ser desenvolvida em qualquer lugar do universo, se educar for: ajudar a crescer “mais sábio e mais feliz” (cf. PE).
É fulcral haver real vontade dos pais, dos orientadores e das crianças ou jovens em mudar as práticas educativas, no sentido de se viver a escola como um espaço de formação aprazível, contínuo e, sobretudo, partilhado. É da motivação comum que nascem as grandes obras.
Não se objetiva, com o acima antedito, significar que este projeto possa ou deva ser “clonado”. Cada comunidade educativa tem particularidades que são de se valorizar e, porquanto, não se poderá entender este projeto como uma receita. Há, no entanto, princípios e práticas que podem ser adaptadas e, depois, vivenciadas de modo único e singular. Poderiam ser citadas inúmeras situações. No entanto, uma leitura atenta dos documentos e um conjunto de visitas à escola, certamente, esclarecerão de forma muito mais abrangente o/s interessado/s. De outro modo, arrriscar-me-ia a escrever um … livro (!)

2. Como manter vivo o interesse pela leitura nos pequenos?
No que corresponde a este projeto, são múltiplas as formas que utilizamos para cultivar o gosto pela leitura. Destaca-se a possibilidade de serem os alunos a sugerir obras para serem lidas e interpretadas por todos os colegas (situação por núcleo – as idades variam entre os 5 e os 15 aproximadamente).
Note-se, então, que, todas as quinzenas, os alunos têm disponível uma história ou uma coletânea de textos ou poemas, bem como outros géneros textuais para interpretarem. A panóplia a explorar é ampla e variada. As escolhas pertencem a alunos e orientadores, sendo que os segundos baseiam as suas opções dentro do quadro das obras obrigatórias. São, também, distribuídos guiões de leitura através dos quais se procura desenvolver as suas capacidades de interpretação, alterando a tipologia de exercícios. Os guiões de interpretação realizados quer pelos orientadores quer pelos alunos, sob orientação dos primeiros, apresentam diferentes graus de complexidade para se poder abranger todos os leitores e não frustar as suas expetativas e prática de leitura.
A biblioteca escolar dispõe de um vasto leque de escolhas e é gerida por um grupo de alunos coadjuvados por dois orientadores. Trata-se de um grupo de Responsabilidade, tal como existem outros, designadamente: Computadores e Música; Murais; Refeitório; Recreio Bom; Jornal etc. A biblioteca é apetrechada com livros do Plano Nacional de Leitura, projeto nacional a que aderimos, bem como com doações de vários elementos da comunidade. Anualmente, procede-se à atualização da biblioteca e, se necessário, for, a Dimensão Linguística (sobretudo, mas não exclusivamente) sugere a aquisição de livros.
Acresce referir ainda que, diariamente, os alunos são motivados a ler e a partilhar as suas leituras com os colegas. Dispomos de 15 minutos, no final do dia para estas e outras partilhas. A adesão é considerável.
                                                           Tirinha do Calvin sobre Leitura
Finalmente, mas não de somenos importância, reforçamos a existência da Semana da Leitura, Semana das Línguas e integração no Projeto Ler Consigo. Durante a Semana da Leitura e das Línguas são levadas a cabo atividades previamente planeadas por orientadores e alunos, no sentido de promover contatos variados com os livros. Surgem diferentes atividades, a cada ano, exemplos: “Arlivro”; “Escadote das Adivinhas”; “Chá com livros”; “À pesca de histórias”; “Poesia: próxima paragem” (viagem de comboio, na qual os alunos declamam para os viajantes); “Cantas ou cantilenas”, dramatizações de textos, na escola, no Lar de idosos, entre muitas outras situações em que ler é uma ação individual e coletiva. No presente ano, dentro da atividade: Improvisos e partilhas, vários pais (E.E.) e outros elementos da comunidade educativa (funcionários da escola, funcionários de cafés e lojas próximos da escola, o Diretor do Centro Cultural e o bibliotecário etc) foram convidados para a leitura de um pequeno texto, nos espaços de trabalho. Estes entram, pedem a palavra e fazem a sua partilha. A intenção é: todos lemos e todos queremos dar a conhecer algo de que gostamos. Naturalmente, os géneros textuais variam: poemas, fábulas, notícias, textos de tradição oral, entre outros. A adesão tem sido plenamente satisfatória. São cerca de 5 minutos de júbilo literário/linguístico para todos. Pensámos ainda em surpreender, este ano, os alunos com o seguinte: na próxima segunda-feira (está a decorrer a Semana da Leitura), quando chegarem à escola, verificarão que todas as mesas de trabalho da escola, geralmente, cremes, lisas e sem nada por cima, terão, desta vez, num dos cantos, um pequeno texto colado, designadamente: um parágrafo de um texto; uma anedota; uma adivinha; uma lengagenga; um travalínguas; um poema; uma notícia ou parte; uma entrevista; uma receita etc. As paredes; as bancas e outros cantinhos e espaços, inclusivamente, no refeitório, haverá textos pendurados ou colados. Pretende-se analisar a reação das crianças/jovens e dos adultos e movê-los à leitura e troca de ideias sobre o evento e, obviamente, sobre os textos.
Como término, no que corresponde ao Projeto Ler Consigo, projeto de amplitude nacional, trata-se de levar os alunos a contatarem com o mundo dos autores: escritores; ilustradores; dramaturgos etc. Estes são convidados a virem ler à escola. As escolhas advêm, igualmente, da parte dos alunos. Na Escola da Ponte, convidam-se, usualmente, pessoas ligadas à leitura e à escrita e ainda pais ou outros familiares e pessoas da vila, que os alunos querem ouvir ler na escola para si e para os colegas. São sessões de uma hora e meia aproximadamente. São ainda colocadas questões relativas à leitura/livros a que o convidado responde.

3. De acordo com a escola socrática, ninguém adquire a capacidade de conduzir-se, e muito menos de conduzir os demais, se não possuir a capacidade de autodomínio. Como ensinar às crianças o controle pessoal?
De acordo com o filósofo Sócrates só sabemos que nada sabemos. Na projeto Fazer a Ponte, todos sabemos que devemos saber o que temos planificado para sabermos. Assim, no início de cada dia, cada criança/jovem desenvolve o seu plano de dia, com base no seu plano quinzenal de trabalho por forma a dar seguimento às tarefas planificadas por si mesmo. Estes dispositivos de autoregulação funcionam em parceria com a autoavaliação, no final de cada dia.
No plano do dia, as crianças/jovens escolhem as tarefas a que pretendem dar seguimento, por exemplo: responder ao guião da História da Quizena; fazer exercícios de ortografia; pesquisar sobre a arquitetura dos Romanos; estudar e aplicar o “Simple Present”; praticar Educação Física: —– (modalidade); perceber o sistema urinário etc. Deixam algumas linhas em branco para o caso de haver alterações ou imprevistos. Socorrem-se, seguidamente, da ajuda dos livros; enciclopédias; cds interativos; internet para aceder ao conhecimento. Se não conseguirem ultrapassar algum entrave, pedem ajuda ao grupo de trabalho e se ainda substitirem dúvidas, pedem a palavra (erguendo o braço) e um orientador educativo ajudá-los-á, isto se a dificuldade não for profunda. Caso seja, o aluno solicita uma aula direta, que será marcada, com a brevidade possível, podendo até ser, logo de seguida. No fim do dia, cada criança/jovem verifica o cumprimento do seu plano. Por escrito, analisará as suas atitudes e o plano de trabalho, justificando se necessário o não cumprimento de alguma tarefa e pensando em estratégias para aplicar, no dia seguinte.
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Eleição para Assembléia

O controlo pessoal é matéria suscetível de discussão, na medida em que a definição de controlo não é igual para todos, principalmente, se o considerarmos, no âmbito da psicologia. Neste projeto, referimo-nos à cidadania e ao respeito pelo outro. Neste parâmetro, deve dizer-se que, anualmente, é definida pelas crianças e jovens de toda a escola a lista de Direitos e de Deveres pelos quais todos os alunos e elementos da comunidade educativa devem pautar a sua interação consigo mesmo e com os outros. Esta lista é aprovada em Assembleia, a qual é integralmente composta por alunos. Os orientadores não têm direito a voto, ainda que estejam presentes, e salvo exceções justificáveis, intervêm apenas no Tempo para Professores, Alunos, Pais, Funcionários e Visitas. As eleições para a Mesa de Assembleia acontecem, anualmente, no início de cada ano letivo. Um conjunto de alunos forma a Comissão Eleitoral que acompanha todo o processo, regulando a formação de listas e de toda a campanha. O incumprimento das regras estabelecidas, leva a uma perda de direitos e à reflexão por escrito sobre a situação ocorrida.
Faz ainda parte da Mesa de Assembleia a Comissão de Ajuda, escolhida por todos os alunos e pelos orientadores educativos. Esta comissão contribui para a interação salutar de crianças e jovens, sobretudo, nos períodos de intervalo. A comissão regula ainda os comentários dos dispositivos Acho Bem e Acho Mal, dispositivos de que os alunos se servem para expor a sua opinião.
Existe, também, a Caixinha dos Segredos, dispositivo supervisionado pela comissão acima referida. Serve para crianças e jovens narrarem situações que não querem tornadas públicas. São pedidos de ajuda sobre situações que eles não conseguiram resolver.
Todos estes dispositivos funcionam, no sentido de lhes providenciar autonomia de resolução dos seus problemas, sem intervenção direta e constante dos adultos. O sentido de entrejuda que desenvolvem é, igualmente, ímpar.

4. O ritmo da Escola da Ponte é ditado pelas crianças, nas escolhas dos temas a serem estudados. Porém como garantir que preceitos básicos serão aprendidos por elas, como algumas regras do idioma pátria como construção verbal, estrutura de frase ou raciocínio lógico com conceitos de matemática. Vocês consideram isso importante?
É incorreto pensar que no Projeto Fazer a Ponte, as crianças/jovens fazem o que querem. Elas querem é o que fazem. (cf. Em defesa da Escola Pública) O currículo nacional previsto é desenvolvido (e, em casos, ultrapassado). De outra forma, poderíamos estar a gorar as suas possibilidades à saída desta escola, o que seria desastroso e eticamente incorreto. Ressalta-se, porém, o fato de que o currículo nacional seja trabalhado por cada criança/jovem a seu ritmo e de modo distinto, porque cada ser é único e irrepetível. (cf. PE) Daqui advém o não termos manuais iguais para todos; testes iguais; temas estudados por todos, em concomitância. São pessoas diferentes, com gostos, necessidades e ritmos divergentes. Esta diferença é respeitada, o que não significa que se ignorem os saberes definidos ministerialmente.
No início de cada quinzena, cada aluno seleciona a partir do mural (onde estão colocados os diversos temas de cada valência) aquilo que deseja saber melhor ou aprender. Fá-lo em colaboração com um orientador educativo que está atento ao equilíbrio entre as diferentes competências específicas das valências, bem com às precedências, por exemplo: nenhum aluno poderá estudar as frações sem antes perceber a divisão e por aí em diante.
Particularmente em relação ao conhecimento explícito da língua (gramática e seus diferentes componentes), o texto que produzem quinzenalmente serve, amiúde, de mote para a exploração de itens do funcionamento da língua díspares. Estes provêm da necessidade de melhorar o texto apresentado.
Acresce juntar a existência de um trabalho de casa diário (cada dia, cada valência) para manutenção de saberes. A correção é conjunta. Todos exploram, por exemplo, a pontuação de um texto, discutida depois em grande grupo, ou a leitura de números por extenso, ou exercícios de cálculo ou exploração de uma notícia recente, entre uma infinidade de outras possíveis.

5. Já que as crianças ditam o ritmo, como vocês lidam com a curiosidade delas? Existe alguma forma de estimular a curiosidade?
“Não há objetivos mínimos. Há objetivos máximos.” (cf.José Pacheco)
Alunos na Escola da Ponte

Uma vez que não estão todos a desenvolver um mesmo tema, em simultaneidade, esse assunto é, naturalmente, abordado de modos distintos. Os interesses, dentro da mesma área, divergem. Neste seguimento, um tema pode levar a outro e a outro e a outro e a outro ainda, sendo que isto é ilimitado. Há, também, momentos em que os alunos sentem a necessidade de voltarem a um tema estudado para o aprofundarem pela necessidade que em algum ponto sentiram.
A forma mais profícua de estimular a curiosidade é permitir que ela surja e, depois, promover formas de aceder ao saber. As crianças/jovens querem que se as oriente e não que se as instrua. O poder da descoberta é assinalável. As aprendizagens, sabemos, devem ser significativas, integradoras, dinâmicas e ativas. No entanto, aquelas que brotam da curiosidade são inesquecíveis.
Num sistema em que é o professor que dita o conhecimento, a forma de lhe aceder e de o avaliar, o espartilho em que se vê circunscrita a curiosidade é exacerbadamente restritivo.
O desenvolvimento de projetos a partir de curiosidades leva ao desenvolvimento de saberes vários e à evolução de competências transversais. Contudo, a metodologia de trabalho de projeto não abarca todas as possibilidades e nem todos os projetos movem sempre todos os saberes a adquirir de todas as áreas. Deve haver racionalidade de projeto. (cf. Rui Trindade)

6. Na Escola da Ponte não existe divisão de turmas entre as crianças. E muitas das crianças estão aptas para ensinar outras. O que torna uma criança apta? Há casos de indisciplina por uma criança mais velha não aceitar aprender com uma criança mais nova?
Todas as crianças/jovens são aptos para ensinar outras. Todas, inclusivamente, e principalmente, as ditas com NEE (Necessidades educativas especiais), isto se entendermos ensinar como: aprender algo com os outros. Uma criança/jovem com Trissomia 21 (Síndrome de Down) poderá não dizer a outra como estudar trigonometria, mas a sua necessidade de atenção vai levar a outra criança a lidar com as dificuldades alheias; a ter de saber explicar; a ter a necessidade de mover os seus conhecimentos para ajudar; a ter de cuidar sobre o modo como comunica; a ter de improvisar; a ter de reconhecer a diferença; a ter de prestar ajuda (coletivo sobre o individual); a ter de se concentrar; a ter de persistir etc. Quando se explica algo, muitas vezes, passamos a perceber melhor pela necessidade de dividir o pensamento e de o interrelacionar com outros.
Neste projeto, ensinar é muito mais do que partilhar conhecimentos curriculares; é ajudar o outro a saber um pouco mais e ser-se mais feliz. Ora, quanto a isso…todos podem ajudar; cada um a seu modo.
Neste projeto, todos somos professores de todos. Os orientadores (as “crianças” mais velhas da escola) aprendem, diariamente, com os alunos, pois, muitas vezes, as dúvidas destes levam à procura conjunta do … saber mais.

7. Crianças são impacientes. Até que ponto as alterações de humor delas afetam no processo ensino-aprendizagem dentro da Escola da Ponte?
Escola da Ponte - Yoga do Riso
O relacionamento dos orientadores educativos, neste projeto, com as crianças/jovens é muito próximo e afetivo. Não são raras as vezes em que os alunos procuram os orientadores para narrarem episódios de cunho muito pessoal. O à-vontade/descontração que os alunos sentem com os orientadores permite-lhes um relacionamento de amizade e de elevada confiança.
Existe, também, na escola, o Professor Tutor. Este é escolhido pelos alunos, no início de cada ano letivo. Reúne com o grupo de tutorados (6-10 alunos) para co-gestão das aprendizagens a todas as valências – planificação quinzenal. Nestes encontros e noutros, o Tutor desenvolve, também, laços com o grupo, através do diálogo e de atividades conjuntas. O Tutor faz ainda a ligação com a família, mantendo contatos regulares, via Plano da Quinzena, Caderno de Recados e encontros vários. O Tutor conhece bem o quadro familiar dos alunos e atenta, diariamente, no seu bem-estar, na escola.
Ele/a é a figura por excelência para tratamento de questões dos alunos com desconforto emocional. Ele/a é, igualmente, a ponte do aluno com a Psicóloga da escola.
A impaciência das crianças/jovens ou de qualquer ser humano derivam de alguma situação pontual que lhe provoca esse incómodo. As alterações de humor, similarmente, se não forem de origem patológica. Assim, ao verificar que uma criança/jovem se sente deprimido ou transtornado, qualquer orientador conversa com o aluno em questão e toma diligências imediatas que podem passar por dialogar, no ou fora do espaço de trabalho, por avisar o Tutor, por alertar o grupo de trabalho, por cruzar dados com os colegas etc.
Em suma, a partir da identificação do problema, são envidados os esforços de resolução do mesmo.

8. Uma vez que as crianças escolhem os temas a serem estudados e ensinam umas as outras, qual o papel do professor (orientador) dentro da Escola da Ponte?
 
O papel do orientador não se esgota no de professor. Professor é aquele que ensina conteúdos programáticos. Orientador educativo é aquele que ajuda a aprender a crescer. Ele partilha quer saberes conteudísticos quer saberes atitudinais. Ele atenta no comportamento das crianças/jovens e contribui para a formação integral destes, ativando o seu sentido de responsabilidade, de autononia e de cumprimento dos seus deveres e reforço dos seus direitos, sempre no respeito por si mesmo e pelos outros.
O papel do orientador passa, assim, por estar atento às necessidades específicas de cada aluno. Cada um tem o seu ritmo de aprendizagem e os seus interesses. Este cenário tem de estar sempre presente no dia-a-dia de cada orientador, que segue minuciosamente o percurso de cada um, promovendo diferentes materiais, avaliando as aprendizagens em conformidade com cada perfil, colaborando na definição de metas e registando continuamente quer os pequenos quer os grandes triunfos dos seus pupilos.
Recorremos, frequentemente, ao Eu já sei, ao Eu preciso de Ajuda e ao Posso ajudar em, no sentido de supervisionar as aprendizagens curriculares. Recorremos, amiúde, à lista de Deveres e de Direitos para recordar os alunos, na promoção de uma escola cada vez melhor.

9. Como são trabalhados os casos de dificuldades de aprendizagem?
“Não há dificuldades de aprendizagem; há dificuldades de ensinagem.” (cf. José Pacheco)
Há, sabemos, diversos perfis cognitivos. Há, também, diferentes dificuldades de acesso ao conhecimento, dependendo das áreas de estudo. Nem todos sentem a complexidade dos distintos saberes da mesma forma. Particularmente, no que concerne às crianças/jovens com Currículo Educativo Individual (casos mais graves – Trissomia 21; défices cognitivos elevados etc), contamos com orientadores educativos especializados na área da Educação Especial, os quais levam a cabo um trabalho específico com estes alunos que, no entanto, não deixam, por causa disso, de integrar os grupos de trabalho com outras crianças/jovens. Há atividades/tarefas conjuntas e atividades/tarefas em separado, sendo que a maioria incide sobre as primeiras. Todos os orientadores educativos contribuem com exercícios adaptados e com a correção dos mesmos, estando, também, atentos aos planos do dia e da quinzena destes alunos, opinando, em reuniões, sobre o seu percurso e tomando decisões coletivamente. Estes alunos têm Professores Tutores de diferentes áreas e escolhem-nos de modo similar a todos os outros alunos. Não obstante o antedito, efetivamente, o orientador da Educação Especial é o orientador que fica mais adstrito ao trabalho a ser desenvolvido por estes alunos.
No que se refere às crianças e jovens com dificuldades de aprendizagem reconhecidas como NEE, por exemplo, na Dimensão em que estou integrada, a Linguística, criamos guiões de interpretação da História da Quinzena com diferentes graus de complexidade. Estes guiões abrangem, igualmente, os alunos anteriores tidos como casos mais graves. Optamos, também, de quando em vez, por histórias/textos diferentes. No que diz respeito ao processo de avaliação, este é, logicamente, distinto, sendo que se aposta, primordialmente, nas pequenas grandes conquistas e, claramente, no reforço positivo. É de aditar que nos socorremos de recursos informáticos disponíveis e solicitamos, depois, a partilha no jornal da escola; na Assembleia e nos murais. Utilizamos diferentes manuais de estudo. Também, elaboramos exercícios, no momento, para se ajustarem às pesquisas e temas desenvolvidos, simplificando as questões e dividindo os passos. Há mais diretividade, pois estes alunos necessitam do apoio mais direto do orientador. Contribuimos ainda para a elaboração dos planos do dia e da quinzena. Procuramos envolvê-los em tarefas mais pragmáticas relativas, por exemplo, ao grupo de Responsabilidade a que pertencem ou a outros grupos, como o da Solidariedade, e ainda a outros que surjam e que impliquem uma praxis regular. Elevar o seu sentido de pertença, de integração, de realização pessoal e de utilidade opera milagres.
Face às crianças/jovens não abrangidos pelo decreto que regula esta matéria, mas que apresentam, igualmente, entraves no seu percurso de aprendizagem, criamos um grupo de dúvidas, que, no início de cada manhã, na primeira semana da quinzena se encontra com cada orientador educativo, para apresentação e exploração conjunta de um tema comum a negociar.
No que corresponde ao domínio atitudinal, a exigência é semelhante à tida com todos os outros alunos.

10. Vocês podem citar os livros que 10 crianças distintas estão lendo?
Iria (12 anos) – Núcleo de Consolidação – Poesia;
Catarina Monteiro (10 anos) – Núcleo de Consolidação “A menina que sorria a dormir” (já lido);
Gabriel (8 anos) – Núcleo de Consolidação – “As aventuras de João sem medo”;
Inês (13 anos) – Núcleo de Aprofundamento – “O diário de Anne Frank”;
Guilherme (12 anos) – Núcleo de Consolidação – “Nas encostas dos problemas, os afluentes da solução” – conto por publicar (já lido);
Isa (13 anos) – Núcleo de Aprofundamento – “Feita de papel” – conto por publicar (já lido);
Andreia Neto (14 anos) – Núcleo de Aprofundamento – um romance (?)
Ana Sofia (15 anos) – Núcleo de Aprofundamento – um livro que lhe emprestou a mãe dela (esqueci-me do nome)

Sinceramente, não me recordo de outros. Sinto as minhas faces ruborescer por isso, mas, na verdade, não tenho presente, na memória, outros títulos. Teria de consultar o dispositivo “Clube de Leitores”. Julgo, todavia, que a intenção da questão seria verificar se eu teria memorizado as leituras que diferentes alunos estão a realizar, no seu tempo livre. Assim sendo, lamentavelmente, apenas recordo os acima referidos.
Acresce juntar que tenho vindo a refletir bastante sobre a questão colocada e sobre a dificuldade em respondê-la. Percebi que devo melhorar este aspeto. Agradeço a “dica”.
½. Aprender é… estar consigo e/ou com os outros a tentar construir um mundo melhor: mais sábio e mais feliz.
(a outra metade da resposta terá de ser cada um a encontrá-la. “Caminhante, o caminho faz-se a andar!”)

A Equipe Meia Palavra agradece a atenção da Orientadora Educativa Paula Fonseca e ao Conselho da Escola da Ponte.

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