segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Pesquisa/Artigo - A IMPORTÂNCIA DO TEXTO LITERÁRIO PARA A PRODUÇÃO TEXTUAL DOS ALUNOS DO LAVILI-PORTUGUÊS


Alex Sandro Maggioni Spindler ¹
Profª. Me. Rosemari Lorenz Martins ²
RESUMO
Na busca de referenciais teóricos que permeiam estudos de como melhor desenvolver a produção textual a partir de textos literários, apresenta-se esta pesquisa. Ela foi dividida em dois momentos específicos.  Primeiramente, visou a justificar a importância de estimular a leitura de textos literários, para ampliar os horizontes no que tange ter a ideias sobre o que escrever. Posteriormente, teve como objetivo verificar se a leitura de textos literários contribui também em termos de enriquecimentos linguísticos, uma vez que, na literatura, são buscados usos variados da língua. Com base nisso, foi feita uma análise de tarefas dos módulos do Lavili-Português. Para tanto, separaram-se as tarefas que tinham como texto base textos literários e textos não-literários. Depois, verificaram-se os textos produzidos pelos alunos. A partir daí, concluiu-se que, nas atividades propostas que tinham como base textos literários, os alunos participantes tiveram mais êxito, tanto no que se refere a conteúdos mais interessantes e elaborados, quanto em relação a textos mais estruturados e linguisticamente com menos erros. Esta é uma pesquisa ainda em andamento.
PALAVRAS-CHAVE: Correção linguística. Estrutura textual. Referencial teórico.
The importance of literary text into students’ written production of Portuguese-Lavili project
This research presents theoretical references that permeate studies of how well develop the production of texts in a literary perspective. It was divided into two specific moments.  The first intends to justify the importance of encouraging the reading of literary texts, in order to expand students’  horizons through an alternative to express ideas taking into consideration  what to write. Second, it focuses on determining whether the reading of literary texts also helps in terms of linguistic enrichment, considering in Literature, they are sought varied uses of language. Based on that, an analysis was made concerning the tasks proposed in Portuguese-Lavili stages. On this context, the tasks were classified in literary text and non-literary texts. Then, the texts produced by students were verified. It was possible to conclude that, the proposed activities based on literary texts, the students got success. These written productions were more interesting and elaborated concerning the structure and the linguistic elements  well developed. This study is still in progress.

KEY WORDS: language correction. Textual structure. Theoretical references.
                _____________________________
                [1] Aluno do Curso de Letras Português/Inglês, Bolsista de Extensão do Lavili-Português. alexmaggioni@feevale.br
² Mestre em Ciências da Comunicação, professora do Curso de Letras na Universidade Feevale e Líder do Projeto Lavili- Laboratório de Virtual de Línguas. rosel@feevale.br

CONSIDERAÇÕES INICIAIS
           
            Este trabalho tem como objetivo refletir sobre a importância do texto literário para a produção textual dos alunos do Lavili-Português. O interesse por este assunto surgiu a partir da constatação da dificuldade de muitos acadêmicos em produzir textos satisfatórios em termos práticos, isto é, textos de diferentes gêneros usados no cotidiano tanto acadêmico quanto profissional. Isso significa que, embora muitos de nossos alunos já façam parte de um programa de graduação há algum tempo, mostram pouca familiaridade com a produção textual e possuem pouca habilidade para utilizar a língua portuguesa na modalidade escrita.
No âmbito específico dos cursos oferecidos pelo Lavili - Português, observamos que os textos dos alunos apresentam problemas tanto de organização macro e microestrutural quanto problemas relacionados a questões gramaticais e ortográficas. Além disso, verificamos também problemas relacionados ao gênero textual, o que reflete a falta de conhecimento do aluno sobre a função social dos textos. O aluno desconhece, por exemplo, que os textos possuem uma estrutura. Também não sabe qual o nível de linguagem adequado para cada gênero, especialmente no que tange à “obrigatoriedade” do uso de uma norma culta em gêneros acadêmicos. Dessa forma, muitos dos trabalhos produzidos pelos alunos do Lavili apresentam-se como uma “colcha de retalhos” composta de noções diversas e, muitas vezes, desconectadas, uma espécie de “recorte e cola”, desconsiderando que um texto possui um objetivo e que é produzido para um leitor que deverá compreendê-lo. Não obstante, quando se trata da produção de textos de gêneros literários, notamos um aumento na qualidade das produções, não só em termos linguístico, mas também em termos de estrutura e conteúdo.
A partir dessa constatação, começamos a observar com mais cuidado as produções de nossos alunos e a refletir a sobre elas, com o intuito de verificar se a produção de textos de gêneros não-literários com base em gêneros literários produziria o mesmo efeito da escrita de histórias. Para tanto, foi realizada uma análise de textos produzidos pelos alunos, motivados por textos de gêneros literários e não-literários, para comparar seu desempenho em cada um dos tipos de produção, cujos resultados serão apresentados no desenvolvimento deste artigo, após a apresentação de uma breve revisão teórica sobre leitura e produção de texto, que embasou o estudo.

 1 LEITURA  E  PRODUÇÃO DE TEXTOS
De acordo com o senso comum, “quem lê muito escreve bem”. Será que esta premissa é verdadeira? Se for verdadeira, quanto é necessário ler para escrever bem e o que se deve ler? Muitas pessoas devem se fazer essas perguntas, cujas respostas certamente interessariam a todos os professores de língua portuguesa que têm a missão de auxiliar seus alunos a qualificarem sua competência discursiva na modalidade escrita. Essas respostas também interessam ao projeto Lavili, que tem o desenvolvimento da competência da escrita de seus alunos como objetivo principal.
Essas perguntas, entre tantas outras, surgem frequentemente quando avaliamos as produções de nossos alunos e também quando revisamos as propostas de produção de texto oferecidas pelos nossos cursos. E, para tentar respondê-las, realizamos esta pesquisa, cujo enfoque foi diferente de outras que já realizamos, pois partimos da leitura para chegar à produção de textos, já que acreditamos que a concepção do senso comum tenha um fundo de verdade.
Nesse sentido, entendemos a leitura como um processo de construção de sentidos por um sujeito determinado e limitado a determinadas condições sócio-históricas. Além disso, não vemos a leitura como um mero decifrar ou decodificar de um somatório de parágrafos, frases e palavras, mas também como a leitura de modo de estruturação de um texto ou de um livro (COSSON, 2006).
Durante muitos anos, acreditou-se que a leitura se baseava apenas na decodificação de códigos. Hoje, no entanto, reconhece-se a existência de diversos parâmetros para a leitura. Em função disso, inclusive, os Parâmetros Curriculares Nacionais orientam como prática de leitura uma junção de todos os elementos necessários para a leitura e interpretação de um texto em si. Assim chegamos a uma outra leitura, diferente da que usualmente é feita pelos leitores. Chegamos a uma leitura observadora dos detalhes do texto, além da simples codificação, a partir da qual, além de compreender o texto o leitor terá que encontrar detalhes do texto que ajudem a compreender como foi organizado, a fim de contribuir com a qualificação de sua escrita.
Assim, em um sentido mais restrito, mais acadêmico, leitura pode significar a construção de um aparato teórico e metodológico de aproximação de um texto: são as várias leituras de Saussure, as possíveis leituras de um texto de Platão, etc. Em um sentido ainda mais restritivo, em termos de escolaridade, pode-se vincular leitura à alfabetização (aprender a ler e a escrever), adquirindo, então, o caráter de estrita aprendizagem formal. Embora seja possível enumerar outros sentidos que se podem atribuir à própria noção de leitura, acreditamos que não seja necessário, pois já está bastante claro o vínculo entre a leitura e a escrita. Mas por que o texto literário? Qual a sua função?
Ouvir e contar histórias faz parte da nossa vida. Todos gostamos de histórias e nos interessamos por elas. Além disso, todos sabemos, desde a mais tenra idade, contar histórias. Também reconhecemos facilmente se a estrutura do texto está adequada, pois dela, decorre, em parte a coerência da história. Talvez por isso os alunos do Lavili-Português tenham mais facilidade para redigir gêneros com predominância narrativa.
Por outro lado, segundo os PCNs de Literatura (2006, p.67),

a leitura do texto literário é, pois, um acontecimento que provoca reações, estímulos, experiências múltiplas e variadas, dependendo da história de cada indivíduo. Não só a leitura resulta em interações diferentes para cada um, como cada um poderá interagir de modo diferente com a obra em outro momento de leitura do mesmo texto. E é dessa troca de impressões, de comentários partilhados, que vamos descobrindo muitos outros elementos da obra.
 De acordo com os PCNs, a troca de impressões e a “descoberta de muitos outros elementos da obra”, promove a leitura idiossincrática de quem escreve ou quer escrever. Por isso, o texto literário é de suma importância para o leitor/escritor, que vê no texto um exemplo a ser seguido e, assim, muitas vezes, indiretamente e consequentemente o faz. 
Dessa forma, podemos considerar que a leitura de obras literárias é uma prática essencial para a formação de leitores e escritores, que, a partir dessa prática, atingem um nível maior de conhecimento crítico do mundo, além de tornarem-se leitores intelectualmente autônomos e humanizados. Conforme Lajolo (1997, p.45), é à literatura, como linguagem e como instituição, que se confiam os diferentes imaginários, as diferentes sensibilidades, valores e comportamentos através dos quais uma sociedade expressa e discute, simbolicamente, seus impasses, seus desejos, suas utopias”.

No que diz respeito à relação escola e sociedade, Zilberman (1991) afirma que a escola atua, desde o século XVIII, como mediadora entre a criança e a cultura, dessa forma, a leitura é a ponte entre ambas, funcionando como porta de entrada do jovem no universo do conhecimento. Por isso, o professor deveria explorar com os alunos ao máximo as potencialidades do texto literário, a fim de que o contato entre aluno e literatura seja uma busca plena de sentidos e, consequentemente, de escrita. Consoante Cosson (2006, p.30),

é justamente para ir além da leitura que o letramento literário é fundamental no processo educativo. Na escola, a leitura literária tem a função de nos ajudar a ler melhor, não apenas porque possibilita a criação do hábito de leitura ou porque seja prazerosa, mas sim, e sobretudo, porque nos fornece, como nenhum outro tipo de leitura faz, os instrumentos necessários para conhecer e articular com proficiência o mundo feito linguagem.

            Para que os alunos se tornem escritores, segundo Jolibert (1994), é essencial que passem por experiências como:
·         saber que a escrita serve para qualquer coisa, se comunicar, contar e conservar histórias, criar histórias;
·         perceber que a escrita lhe dá poder para se comunicar com o restante do mundo;
·         perceber o prazer que a produção de um texto escrito pode lhe proporcionar;
·         entender a produção de texto não como um trabalho enfadonho, mas como uma forma de buscar sua autonomia enquanto indivíduo.

Segundo a autora, existe uma grande interação entre leitura e escrita, pois é necessário dominar a leitura para escrever e dominar a escrita para ler. Ela afirma, ainda, que o interesse pela escrita e a leitura começam antes da escola, pois a criança constantemente se interessa em saber o que está escrito em cartazes, quer saber escrever seu nome ou de seus pais, por exemplo. Dessa forma, acreditamos que, se reestimularmos o interesse pela palavra, talvez assim os alunos percebam a importância e utilidade do ler e escrever. É isso que tentamos fazer no Lavili-Português.
De posse dessas ideias, passaremos à análise dos textos, conforme será descrito na sequência.





2 DA LITERATURA À PRODUÇÃO DE TEXTOS


Para a realização desta pesquisa, foram analisados 10 textos produzidos por alunos do Lavili-Português para os módulos “Como pontuar um texto?” e “Como Redigir um Comentário?”, em diferentes edições e anos. A seleção dos textos foi feita de forma aleatória no que tange aos autores dos textos, cuja identidade será resguardada. O único critério usado para a seleção foi o tipo de proposta de produção textual apresentada nas atividades do Lavili-Português, isto é, foram selecionados 5 textos que tinham como motivação textos literários e 5 produzidos com base em textos de gêneros não-literários.
Uma vez definidos os textos, foram utilizados os seguintes critérios para a análise dos textos:
·         conteúdo;
·         estrutura;
·         aspectos linguísticos.
No critério conteúdo, analisamos a originalidade do conteúdo, a autonomia de escrita do aluno e as marcas de identidade. Com relação à estrutura, verificamos se os textos respeitavam a estrutura básica dos gêneros que o aluno deveria produzir. E, no aspecto linguístico, fizemos um levantamento dos problemas de coesão, de pontuação e de ortografia presentes no texto.
A análise levou-nos aos seguintes resultados:
·         as produções com base em textos literários apresentaram conteúdo mais original do que motivadas por textos não-literários;
·         a autonomia no uso da escrita também ficou mais evidenciada nas produções motivadas por textos literários;
·         os textos produzidos em gêneros não-literários não apresentaram marcas de identidade, diferentemente dos produzidos com base em gêneros literários, em que 3 dos 5 textos analisados apresentaram esse tipo de marca;
·         quanto à estrutura, as produções baseadas em textos literários respeitaram mais a proposta apresentada do que as produções baseadas em textos não-literários;
·         no que tange aos aspectos linguísticos, as produções baseadas em textos literários apresentaram apenas erros de pontuação e ortografia, enquanto os textos motivados por gêneros não-literários apresentaram, além de erros de pontuação e ortografia, erros de coesão, como de regência, concordância e, principalmente de articulação.

A partir daí, concluímos que, nas atividades propostas que tinham como base textos literários, os alunos participantes tiveram mais êxito, tanto no que se refere a conteúdos mais interessantes e elaborados, quanto em relação a textos mais estruturados e linguisticamente com menos erros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora esta pesquisa ainda esteja em andamento e, apesar de terem sido analisados somente 10 textos, já é possível perceber que os alunos obtêm mais êxito em produções textuais motivadas por textos literários. Essa constatação corrobora, de certa forma, a pesquisa realizada por Martins e Schneider (2007), que mostra que os alunos de Ensino Médio possuem mais facilidade de ler e compreender textos literários e têm dificuldades em compreender outros gêneros, principalmente os que não usam no cotidiano.
Contudo, é necessário que se analisem mais textos produzidos por alunos com base em outras propostas para verificar se essa constatação inicial realmente se confirma. E, caso se confirme, é preciso explorar esse aspecto para qualificar todas as produções textuais. Assim, seria interessante que se iniciasse um trabalho com base em gêneros literários, mas sem se deter neles, já que os alunos precisam desenvolver a habilidade de redigir qualquer gênero textual a partir de qualquer motivação.  
É nesse sentido que esta pesquisa inicial está sendo extremamente importante para o Lavili-Português, já que, com base nela, é possível buscarmos novas propostas para estimular e propiciar a leitura tanto de textos literários quanto de textos de outros gêneros, fazendo uma transição entre os gêneros de forma que nosso aluno se torne um ótimo leitor de qualquer gênero textual e também um exímio produtor de textos.
REFERÊNCIAS
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________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
________. Secretária de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua Portuguesa. Brasília: MEC. São Paulo, 1997.
CHARTIER, R. Crítica textual e história cultural: o texto e a voz, séculos. Roger Chartier - Paris: Seden, 1976.
COSSON, R. Letramento Literário: teoria e prática. Rildo Cosson. – São Paulo: Contexto, 2006.
EAGLETON, T. Teoria da Literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 6ª edição, SP: Ática, 2004.
LAJOLO, M. O que é literatura. São Paulo: Brasiliense, 1997
LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A leitura rarefeita: livro e literatura no Brasil. São Paulo: Brasiliense, 1991a.
ORLANDI, E. P. Discurso e leitura. São Paulo: Unicamp, 1996.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. Feevale: Novo Hamburgo, 2009.
REZENDE, N. et al. Linguagens, códigos e suas tecnologias: Conhecimentos de Literatura. – Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Básica, 2006.
SAMUEL, R. Novo Manual de Teoria Literária / Rogel Samuel. – Petrópolis, RJ : Vozes, 2002.

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