terça-feira, 23 de agosto de 2011

Contos - Janta na Taverna


                                  

Era terça-feira à noite. Chovia muito. E após um dia exaustivo de trabalho fácil e agradável não havia nada melhor que beber um pouco em uma taverna (Pub para os contemporâneos). Sim, meu amigo, o dia havia sido exaustivo, pois o tempo, data e hora são potencializadores do cansaço, o trabalho é apenas, no pior dos casos, demasiado simples e primitivo, daí a confusão. Pois então, deixei meu casaco na chapelaria do recinto e me sentei à mesa mais próxima do balcão. Logo, pedi uma bebida e coloquei um Malboro de cabeça pra baixo. Na vitrola, tocava I want you de Peter Framptom agradável demais para uma terça-feira, diga-se por sinal. Pensando bem, conhecia pouco o Peter, mas a única coisa que sabia ao certo é que o achava tímido como uma ostra.
Era isso. Pediria um petisco! Será que eles teriam ostra?!
– Amigo, traz um petisco no capricho, por favor! – disse, impondo minha voz de macho alfa. Ele fez um “OK!” com o polegar, era a minha deixa. Fui ao banheiro lavar as mãos.
Quando voltei, o petisco já estava na mesa. Acomodei-me, e comecei a comer os maravilhosos bolinhos. Ademais, notei um rapaz sentado na cadeira oposta à minha. - Como era possível?!, - pensei. Ele poderia ter se confundido já que deixei a mesa vazia por alguns instantes. Ou... talvez quisesse confusão mesmo. O que um homem como eu faria para defender seus interesses? Educado como sou, resolvi não falar nada. Criar caso pra quê? Mandar o cara pro hospital, ter de pagar advogado, essas coisas... Iria ignorá-lo, havia decidido.
Peguei o jornal e comecei a folhear, enquanto isso comia meus deliciosos bolinhos. Mesmo assim, ele me encarava, mas eu fingia não notar. Porém, algo inacreditável aconteceu: ele pegou um dos petiscos. Sim, isso mesmo, um dos meus bolinhos. Não deixei barato! Fixei o olhar nele (no estilo brucutu dos filmes do Stallone) e peguei um também, como quem mostra e tem convicção do que lhe pertence. Ele me encarou e pegou outro petisco. Como ousa, pensei. Outrora o mataria ali mesmo. Encaramo-nos, por algum tempo... Ele pegou outro e fez uma cara muito feia, mas feia MESMO, parecia doer pra caramba. Tentei fazer o mesmo, infelizmente tive câimbra na gengiva. Doeu pacas.
Estávamos num impasse e meus petiscos estavam acabando. Os dois continuaram a pegar os bolinhos. Um de cada vez. Sem piscar. Sem olhar para a bandeja, movendo somente antebraço e pulso. A coisa havia ficado deveras feia. A paciência havia se esgotado. Uma catástrofe ia acontecer... Estava me levantando pra tirar satisfações com sujeito quando o garçom do local se intrometeu.
- Senhor - disse ele.
- Pois, não? - respondi, sem nem olhar pro lado.
- O seu pedido está pronto. Devo trazê-lo a esta mesa ou a que o senhor estava antes?    

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