terça-feira, 29 de novembro de 2011

Crônicas - Tudo bem?!

Imagem: Charles C. Ebbets
            De um tempo pra cá tenho pensado muito na expressão “tudo bem”. Gosto de reparar e esmiuçar as coisas do cotidiano. Dar um cunho filosófico as coisas de vez em quando faz bem, acredite. O “tudo bem”, por exemplo, é plurissignificativo, belo e, às vezes, uma cotovelada nas partes íntimas. Até aí, tudo bem, mas pode também se tornar um câncer difícil de curar. Vamos as suas variadas faces. Ele pode, por exemplo, ser um questionamento pertinente e calcado pela preocupação de um amigo:
- Tudo bem quanto à saúde de seu filho, Mário? Ouvi dizer que ele não estava bem e...
Há também o “tudo bem” de resposta, que significa “ok”, legal, tranquilo, nada de novo e sendo interpretado por alguns não tão bem humorados como “tá uma merda de bem”, uma vez que o significante /tudo bem/ diz uma coisa e o significado (expressão facial ou entonação) diz o oposto.
- E aí Gustavo, como está o casamento?
- Tudo bem... – responde Gustavo olhando para a ponta do sapato do amigo com uma voz pra lá de monótona e robotizada, enquanto lembra-se da discussão da noite passada por causa do futebol.
O meu preferido é o “tudo bem” gratuito. Esse é o que mais irrita as mulheres e, consequentemente, o mais utilizado por nós, homens. Ele é de uma simplicidade tão bela e sublime, mas que, infelizmente, as mulheres não partilham. Eu sei que generalizar é errado, mas, tudo bem.
- Benzinho, o que você acha de locarmos uma comédia romântica no findi? Poderíamos também sair pra tomar sorvete ou até almoçar na casa da minha mãe, que tal? Fazer algo diferente, sair um pouco, temos ficado demais em casa... Qual a sua opinião?
- Por mim, tudo bem. – Ele é seco. Lacônico. Gratuito. Logo ela tem vontade de esquartejá-lo ali mesmo com a faca de cortar pão que está sobressalente em cima da mesa.
            Chego agora ao “tudo bem” sem noção que é, na minha humilde opinião, um espetáculo à parte. Ele congela quem ouve. Um estado de paralisia toma conta do interlocutor. Fica lá, perdido no tempo e espaço. Basicamente, ele não processa a mensagem que recebeu e fica num looping infinito.
Sujeito chega ao velório, dirige-se ao seu amigo que acabara de perder o pai e diz:
- E aí Fábio, tudo bem? – Sai como se estivessem num grupo de amigos bebendo e, pior, tocando pagode. É cruel. Fingido. Automático. Dotado de vazio.
            Se você gostou comente – um “tudo bem” já serve – mas, se não quiser, tudo bem. Lindo, não? Seja sua resposta positiva ou negativa, por mim, tudo bem...

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