quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Pesquisas - Navegar é preciso, viver não é preciso[1]




Alex Sandro Maggioni Spindler[2]
Graziela Batista de Souza[3]
Janise Maristela Galle[4]
Joseane Carina dos Santos[5]
Ivo Antônio Garcia de Mello[6]
Júlia Regina dos Santos Cunha[7]
Profª Maria do Carmo Rosa Pereira[8]

Prof.Dr. Daniel Conte[9]
Profª Drª Marinês Andrea Kunz[10]


1. Considerações iniciais
“A poesia prevalece”
(ANITELLI, 2008)

Desde outubro de 2010, os bolsistas do PIBID - Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – do curso de Letras da Universidade Feevale, vêm atuando com turmas de Ensino Médio, em três escolas da Rede Pública Estadual Gaúcha: Escola Técnica Estadual 31 de Janeiro, em Campo Bom; Escola 8 de Setembro, em Estância Velha; e a Escola Borges de Medeiros, em Novo Hamburgo.Sete acadêmicos integram o grupo que atua junto à EscolaTécnicaEstadual 31 de Janeiro, de Campo Bom.Nela são atendidos, em média, 50 alunos por semana, em oficinas de língua portuguesa e literatura,as quais ocorrem no turno oposto às aulas, uma vez por semana, e com duração de duas horas. O grupo de acadêmicos se reúne com os demais grupos do projeto - atuantes nas outras escolas - e com a Coordenadora do Programa a Professora Drª Marinês Andrea Kunz, uma vez por semana, para a troca de experiências e elaboração de planos de aula que possam ir ao encontro dos anseios dos alunos. A premissa de trabalho do grupo tem sido a busca em aproximar o ensino de Língua Portuguesae Literatura à realidade social dos alunos e tornar o aprendizado da língua materna mais atrativo para os adolescentes.
Para tanto, a partir do segundo semestre do ano de 2011, o grupo de bolsistas passou por uma série de estudos direcionados e aulas ministradas pela coordenadora do Projeto na Feevalea fim de obter respaldo teórico para o desenvolvimento de um ciclo de poesias intitulado: Poetizando.Após o período de leituras, questionamentos e estudos, o grupo estavateoricamente embasado para dar início aoprojeto de poesiana escola. No entanto,pelo fato de osacadêmicosconhecerem boa parte dos alunos participantes do Programa, percebeu-sea necessidade de um ciclo de trabalho com uma abordagem depoesiabastante diferenciada, inovadora eque fosse capaz de despertar a paixão pelo poético. Em busca dessa abordagem, os bolsistas de Iniciação à Docência depararam-se comquestionamentos que partiam de uma simples inquietude:  como trabalhar poesia na escolade forma a despertar o interesse dos alunos?
Não há uma única resposta para tal questão ou para um trabalho bem sucedido com poesia em sala de aula. É um enigma, a cada aula e planejamento: um novo aprendizado. A poesia começa a ser saboreada aos poucos junto aos alunos. Este passa a ser o principal objetivo: degustar. Não obstante, entende-se que esse gênero de texto, algumas vezes, não recebe o valor merecido na escola, e, assim, os alunos, muitas vezes, não gostam de ler, não escrevem e tampouco se apaixonam pelo poético. Geralmente, quando isso ocorre é porque o texto poético foi utilizado para uma análise de cunho didático, isto é, utiliza-se a poesia como pretexto para explorar os conteúdos exigidos pelos currículos escolares, esquecendo-se da simplicidade, do dia-a-dia; da poesia que mora em cada um de nós, afastando, assim, cada vez mais o aluno do gosto pelo poético.
Segundo Elias José (2003, p. 11), “vivemos rodeados de poesia”, ou seja, poesia é tudo que nos cerca e que nos emociona quando tocamos, ouvimos ou provamos. Poesia é a nossa inspiração para viver a vida.Com o desenvolvimento do projeto, buscou-se ainda demonstrar aos alunos o quão presente a poesia está em nossas vidas.
O gênero poético é, e deve ser, tratado com extrema importância pelos professores e, acima de tudo, com amor e encantamento, pois é, a partir da poesia, que, muitas vezes, o aluno desenvolve sua sensibilidade, sua imaginação e sua criatividade, por exemplo; além de possibilitar uma nova visão de mundo, a partir dos olhos de cada poeta. Para demonstrar esse amor, essa paixão pelo poético, o convite aos alunos para participarem do Ciclo foi realizado de forma inovadora: os acadêmicos que compõem o grupo do PIBID prepararam uma Blitz Poéticae,assim, adentraram repentinamente nas salas de aula das turmas de Ensino Médio, cantando e,em seguida,declamando poemas.Maquiados e munidos de violão,de muita sensibilidade e de livros de poesia, o grupo se dirigiaaos alunos levando momentos de descontração e de apreciação de textos, interpretados com o intuito de despertar o prazer pela poesia. Essa foi uma das formas que os acadêmicos encontraram para despertar, além do gosto pelo poético, a vontade dos alunos de participar das oficinas de poesia oferecidas pelo PIBID.
Os resultados do ciclo de poesias Poetizando serão mencionados no desenvolvimento desse artigo - após a apresentação de uma breve revisão teórica sobre poesia e ensino, que embasou a prática.

2. Poesia na escola, mas não só na escola
“Ai, se sêsse!”
(LUZ, 1988)

Diante daequivocada abordagem da poesia em sala de aula, utilizada por alguns professores para o ensino de gramática, e também encontrada em vários livros didáticos - que fazem uso inadequado da poesia, descontextualizando-a, o presente texto busca evidenciar uma funcionalização outrade se trabalhar a poesia em sala de aula, apresentando um universo poético novo com uma abordagem diversificada, criativa e atraente. Desta forma, procura-se desenvolver, além do gosto pelo gênero poético, conhecimentos literários, linguísticos, culturais e universais.
Após uma análise específica de livros didáticos, pôde-se perceber, em sua maior parte, o uso de poemas apenas com fins gramaticais, trazendo exercíciosequivocados e desinteressantes que ignoram a essência do poético. Nestas obras, foram encontrados tão somente exercícios de processos de formação de palavras, sentido dos prefixos, formação de verbos a partir de palavras retiradas do poema, tipo de composição de palavras, entre outros,não fazendo nenhuma menção à poeticidade e à interpretação.  Sequer as nuances da estrutura dos poemas, como, número de sílabas, rimas, escansão mereceram uma abordagem significativa.
A escola,por vezes, utiliza-se da poesia, e também de outros textos, apenas como pretexto, dispensando o universo de possibilidades que esse gênero permite. Neste sentido, o grupo concorda com Soares, quando este observa que:
[...] cabe aqui apontar o tratamento que neles (livros didáticos) é dado à poesia, quase sempre descaracterizada: ou se insiste apenas em seus aspectos formais – conceito estrofe, verso, rima, ou, o que é mais frequente, se usa o poema para fins ortográficos ou gramaticais. (SOARES, 2003, p. 26)

A abordagem proposta pelo grupo, para a aplicação na escola, é ampla, repleta de horizontes e visou, principalmente, a aprendizagem da apreciação do poético – semgrande preocupação com as teorias e terminologias complicadas. O que o desenvolvimento do projeto pretendeu foi despertar a paixão pela beleza do ler, cantar, brincar e declamar. Como diz Rubem Alves, “o riso obriga o corpo à sinceridade” e queríamos todos ser sinceros juntos aos alunos.
Conforme os PCNs de Literatura (2006, p.67),
a leitura do texto literário é, pois, um acontecimento que provoca reações, estímulos, experiências múltiplas e variadas, dependendo da história de cada indivíduo. Não só a leitura resulta em interações diferentes para cada um, como cada um poderá interagir de modo diferente com a obra em outro momento de leitura do mesmo texto. E é dessa troca de impressões, de comentários partilhados, que vamos descobrindo muitos outros elementos da obra.

Neste sentido, cabe ressaltar que a poesia pode ser interpretada de formas diferenciadas. É um tipo de texto que permite diferentes olhares e inquietantes ressignificâncias. O projeto Poetizando buscou respeitar essa liberdade, permitindo que os alunos expressassem suas ideiase, assim, explorassem diversas poesias e conhecessem a vida ea obra devários poetas, a fim de que cada aluno pudesse se encontrar nos textos ou simplesmente relacionar os sentimentos do autor com seus próprios sentimentos, diante das fases da vida.
Pode-se dizer que toda poesia parte das emoções experimentadas pelos seres humanos nas relações de foro íntimo-subjetivo, uns com os outros, com entes divinos e com o mundo à sua volta; por isso, ocupa-se também do pensamento e da ação que a emoção provoca, e de que a emoção resulta - e eraexatamente isso que os acadêmicos queriam eternizar nos alunos.Poesia é conhecer melhor a si, ao outro, ao mundo. Há um interesse maior do que descobrir versos, rimas e estrofes perfeitos de quem escreve poesia. Poesia não é somente métrica e ritmo. Há uma busca em descobrir o mundo, as pessoas e, sobretudo, o seu próprio interior. Octavio Paz (1993, p.13) observa que a [...]
[…] poesía es conocimiento, salvación, poder, abandono. Operación capaz de cambiar al mundo. La actividad poética es revolucionaria por naturaleza; ejercicio espiritual, es un método de liberación interior. La poesía revela este mundo; crea otro” (PAZ. p. 13. 1993.).

            Na passagem, o autor revela o tom metafísico, estimulado pela poesia, no espaço íntimo - o das relações, que compõe o ir e vir das habitações dos espaços de conforto do sujeito social que, ao revolucionar o espírito, revela também uma outra espécie de existência: a da renovação interior, gênese de um mundo diverso despertado pelo poético.


3.  A Experiência
“Choveu na palavra onde eu estava.”
(BARROS, 1998)

Como o grupo de acadêmicos já conhecia a escola e grande parte dos alunos, o primeiro passo foi desvendar um dos princípios básicos da poesia: Linguagem plurissignificada. Para atender aos alunos na escola, o grupo de bolsistas dividiu-se em dois subgrupos para atuar nos turnosda manhã e da tarde, oferecendo as oficinas, com o mesmo tema, no turno oposto às aulas.
Na primeira oficina do ciclo, uma dinâmica foi elaborada para que os alunos pudessem perceber as possíveis interpretações de uma mesma palavra, ou seja,suas plurissignificações. Desta forma, cada educando retirava um substantivo concreto de uma caixa e com esta palavra deveria descrever um colega, buscando assim novos significados para as palavras. Rapidamente, os alunos perceberam na prática o que vem a ser a plurissignificação.
Em seguida, buscou-se (re)apresentar a biblioteca aos alunos com intuito de promover maior acessibilidade ao espaço e também de expor a quantidade de livros de poesia que se encontravam ali, e, é claro, em que local. Para fazê-los sentirem-se mais apropriados do espaço, os alunos foram desafiados a descobrir como a biblioteca se organizava e,principalmente, onde estavam os livros de poesia e como pesquisar nesses livros - parece que de nada adianta oferecer um espaço para a prática da leitura, que não a favoreça, ou um espaço que os alunos não dominem, como afirmam Mollo e Nóbrega, 2011:
Um espaço bem decorado e um bom acervo, portanto, não são suficientes para o funcionamento efetivo da biblioteca sem a figura do educador, seja ele professor ou bibliotecário, que promova o encontro entre a palavra escrita e os leitores, que ajude a desvendar os sentidos guardados nos textos. (MOLLO e NÓBREGA, p. 09. 2011)

Ainda na biblioteca foi realizado um Quiz interativo sobre aspectos poéticos, que foi desvendado em grupos. O Quiz consistiu em questões de conhecimentos gerais sobre poesiae explorou questões como a montagem original de poemas conhecidos, porém, as estrofes foram disponibilizadas em ordem aleatória; curiosidades sobre autores; completar espaços em poesias conhecidas, entre outros. A saída da sala de aula para a biblioteca proporcionou uma maior aproximação dos alunos, uma vez que os acadêmicos dividiram os alunos em grupos para esse trabalho e, assim, cada professor pôde ficar junto de um grupo, trazendo esclarecimentos e curiosidades sobre o tema. O resultado foi bastante positivo, pois muitos alunos (não todos) realmente degustaram poesia. A partir daí, criou-se o hábito de ler dois poemas em todo começo de aula, o que também foi muito gratificante, pois alguns acabaram até escrevendo seus próprios poemas para mostrar à turma.
Durante todo o semestre, foi dada ênfase amúsicase à interpretação poética das mesmas. Nesta etapa, os alunos foram desafiados a localizar os aspectos poéticos em músicas populares, antigas e atuais, e, assim, perceberque muitas das músicas de maior sucesso atualmente são extremamente pobres quanto à poeticidade. Posteriormente, explanou-se sobre as diferenças existentes entre poema e poesia.
Como já mencionado, o projeto foi desenvolvido sob o títuloPoetizando, com o objetivo de despertar os alunos para o prazer pelo poético - considerando a importância do mesmo para o desenvolvimento da sensibilidade, tão necessária para a apreciação da expressão artística, seja ela qual for. Levar a poesia desse modo diferenciado à escola é a mais simples busca pela perpetuação da sensibilidade quanto ao belo,ao poético, em suma, pela literatura. Para isso, foram estudados conceitos básicos da linguagem poética, tais como a plurissignificação, a verossimilhança,aambiguidade, a ficção, a estrofe, o verso, a rima e, ainda, algumas figuras de linguagem, que contribuíram para que, no final do semestre, se pudesse realizar uma análise poéticamais técnica. Algumas aulas consistiram em ir com os estudantes até a biblioteca e, simplesmente, deixá-los ler, mostrare declamar poemas de que gostassem. Assim,dando-lhes autonomiapara que pudessem saborear o poético sem a necessidade de um questionário ou produção, enfim,sem a punição através da leitura.
Algumas aulasdepois,iniciou-se o trabalho com Poesia Sensorial que consistia em perceber sensorialmente a linguagem poética. Assim, os acadêmicos selecionaram três poemas com ênfase na sonoridade e que proporcionasse uma diferente visualização dos poemas. Geralmente, escutamos um poema e devemos imaginar as sensações propostas por ele, desta vez, buscou-se uma vivência das sensações.
Para tanto, os alunos foram sendo transferidos, em grupos de até cinco integrantes, para a biblioteca onde dois acadêmicos os esperavam munidos de diversos materiais como: ventilador, massageador capilar, água com aromatizante de roupas e pano de prato nela umedecido, bolhas de sabão, rolhas embebidas em vinho, fundo sonoro etc. Ao adentrarem à biblioteca vendados, os estudantes foram posicionados sentados em semicírculo e motivados a permanecerem com as mãos sobre as pernas, com as palmas viradas para cima, de modo a agilizar a percepção dos objetos durante as ações. Posteriormente, os alunos foram convidados a relaxar, permanecendo em silêncio, de maneira confortável, sem tentar espiar através da venda, para apenas sentirem o que seria dito. Logo, os acadêmicos iniciavam a leitura dos poemas com inserção de efeitos sonoros e desenvolvendo ações, com os materiais acima descritos, que foram utilizados para despertar os vários sentidos dos alunos. Buscou-se chamar a atenção deles para o som, para a palavra. Assim, o grupo de acadêmicos interpretou três poemas, desenvolvendo simultaneamente as seguintes ações:
Ritmo
Mário Quintana 
Caixa de texto: Neste momento passa-se uma vassoura de palha por cima dos pés dos alunos.Na porta
a varredeira varre o cisco
varre o cisco
varre o cisco
 
Caixa de texto: Neste momento passa-se levemente uma escova de roupas nas mãos dos alunos.Na pia
a menininha escova os dentes
escova os dentes
escova os dentes
 
Caixa de texto: Neste momento bate-se, no ar, um pano de prato encharcado com água e aromatizante de roupas.  No arroio
a lavadeira bate roupa
bate roupa
bate roupa
Caixa de texto: Neste momento passa-se pelas mãos dos alunos uma corda. (se a escola dispuser de cadeiras giratórias, pode-se girar os alunos) 
até que enfim
             se desenrola
                           a corda toda
e o mundo gira imóvel como um pião!

Canção de nuvem e vento
Mário Quintana

Medo da nuvem

Caixa de texto: Neste poema, com a ajuda de um ventilador, direciona-se ao rosto dos alunos o vento. Em alguns momentos esborrifa-se água também, representando a chuva.

Fica-se alternando essa ação durante todo o poema.

Nos momentos em que são escutadas a palavra ‘medo’ no poema, o professor repete a palavra cochichando, bem próximo ao ouvido.
Medo Medo
Medo da nuvem que vai crescendo
Que vai se abrindo
Que não se sabe
O que vai saindo
Medo da nuvem NuvemNuvem

Medo do vento
Medo Medo
Medo do vento que vai ventando
Que vai falando
Que não se sabe
O que vai dizendo

Caixa de texto: Novamente direciona-se o vento para o rosto dos alunos.Medo do vento VentoVento

Caixa de texto: Neste momento há uma pausa no áudio, evidenciando a palavra ‘MUDO’ e em seguida a palavra ‘SURDA’.Medo do gesto
Mudo

Medo da fala
Surda

Caixa de texto: Novamente direciona-se o vento para o rosto dos alunos.Caixa de texto: Neste momento inicia-se uma breve massagem, com a ajuda de massageadores capilares.Que vai movendo
Que vai dizendo
Que não se sabe…
Que bem se sabe
Que tudo é nuvem que tudo é vento

Nuvem e vento VentoVento!



Bolhas
Caixa de texto: Efeito sonoro de bolhas estourando e/ou de água borbulhando durante toda a apresentação do poema.Cecília Meireles


Caixa de texto: Com o borrifador, respinga-se água no rosto dos alunos. Olha a bolha d’água no galho!
    Olha o orvalho!
Caixa de texto: Coloca-se, nas mãos dos alunos, rolhas umedecidas em vinho.Olha a bolha de vinho na rolha!
            Olha a bolha!  
Caixa de texto: Passa-se um maço de palha nas mãos dos alunos. Olha a bolha na mão que trabalha
Olha a bolha de sabão na ponta da palha
brilha, espelha e se espalha
 Olha a bolha!
 
Caixa de texto: Molha-se as mãos dos alunos enquanto o som do borbulhar continua. Olha a olha que molha a mão do menino:
A bolha de chuva na calha!

Após a atividade, houve um momento para a produção de comentários sobre a experiência. Os comentários produzidos pelos educandos estão postados no blog do projeto (http://pibidletrasfeevale.blogspot.com).Assim, pôde-se comprovar, junto aos alunos, o sucesso de uma abordagem diferenciada da poesia. Cabe ressaltar aqui, que essa prática também foi desenvolvida com alguns professores da escola, que elogiaram, sobremaneira, a abordagem adotada.
Posteriormente, os alunos foram desafiados a desenvolverem suas próprias Poesias Sensoriais. Desse modo, os professores disponibilizaram uma série de poesias e os alunos, organizados em grupos, escolheram um poema para desenvolverem ações que mexessem com os sentidos dos colegas. O sucesso das poesias e materiais selecionados pelos alunos foi tão grande, que eles foram convidados a apresentá-las na escola durante a Jornada Literária, no final do ano letivo, que também será abordada no decorrer do presente artigo.
Esse fato evidenciou o sucesso das ações desenvolvidas pelo PIBID na escola, visto que, para os acadêmicos, o convite foi encarado como um forte indicador de sucesso do projeto. Já, para os alunos, serviu como reconhecimento e valorização do seu empenho. 
As dinâmicas de sensibilização e de interação foram igualmente uma constante nas oficinas e contribuíram não só para o bom relacionamento do grupo, mas também para a produção. O projetoproporcionou situações de desinibição, importantes para a atividade de declamação de poemas e havendo sempre uma boa aceitabilidade por parte dos alunos, que também tiveram a oportunidade de participar da 57ª Feira do Livro de Porto Alegre, o que lhes possibilitou a percepção da grandeza do evento e da importância da leitura e da literatura na vida dos indivíduos.
É relevante, ainda, destacar que foram proporcionadas situações de aprendizagem em que o aluno pudesse desenvolver diferentes usos da língua portuguesa, tanto na modalidade escrita quanto na orale que o objetivo principal desse projeto foi proporcionar aos alunos conhecimentos variados sobre a linguagem poética, língua e cultura escrita. A diversidade dos poemas e escritores trabalhados sugeriu uma visão universal sobre o mundo e pessoas para que percebessem o quanto estudar poesia e língua pode ser interessante e divertido. Desta forma, o Ciclo de PoesiasPoetizandobuscou desenvolver a sensibilidade e percepção de um novo e velado universo poético, através do uso da língua oral e escrita.
O grupo de bolsistas acredita que a vivência de todas as situações abordadas no Ciclo de Poesia contribuíram muito para a formação de sujeitos mais sensíveis, interessados e alegres. Cidadãos conscientes das diferentes facetas do mundo, talvez, até mais preparados para enfrentar a vida em todas as suas oscilações.

5.JORNADA LITERÁRIA
“A vida só é possível
reinventada.”
(MEIRELES, 1994)

Como fechamento das oficinas, o PIBID Letras – Feevale foi convidado a apresentar seu trabalho de Poesia Sensorial na Jornada Literária da escola 31 de Janeiro, em que direção, professores e alunos se mobilizaram para mostra de trabalhos elaborados pelos estudantes durante o ano, orientados por professores de diversas áreas de conhecimento.
A participação do PIBID na Jornadaconsistiu, principalmente, na apresentação da Poesia Sensorial. Para isso, foram utilizados poemas selecionados pelos alunos, para os quais eles criaram suas próprias ações sensoriais. As dinâmicas produzidas pelos estudantes contaram com a interpretação de poemas de terror, mistério, pequenas coisas da vida, entre outros temas, despertando os sentidos dos participantes. Na interpretação do poema Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz, de Otávio Roth, por exemplo, a interpretação envolveu a utilização de balas de hortelã e chocolates para despertar o paladar; os poemas de terror envolveram mãos geladas, gritos e puxões repentinos, criando um clima de medo e mistério.
O grupo de bolsistas auxiliou os alunos com a Poesia Sensorial, organizando-os, disponibilizando materiais e prestando ajuda na execução das ações.O espaço utilizado para o trabalho foi a biblioteca. Os visitantes também puderam participar da atividade, fato que deixou os alunos muito animados, pois percebiam a alegria dos participantes que ficaram bastante satisfeitos com o trabalho e revelaram grande admiração pelo modo como a atividade despertou as mais diversas sensações. Alguns visitantes, principalmente os mais envolvidos com o ensino e com a disseminação da leitura, se emocionaram diante dessa abordagem inovadora. Os alunos sentiram-se verdadeiramente recompensados pela prática, ao verem a repercussão que o poético causa nas pessoas.
Cabe ainda destacar a etapa de confecção de flores poéticas, em que os alunos selecionaram frases de poemas conhecidos para escrevê-los em tiras de papel crepom. Após a escolha das frases e sua transcrição para as tiras de papel, estas foram transformadas em lindas flores coloridas. Asflores poéticasconfeccionadas pelos bolsistas e pelos alunos da escola adornaram o espaço, ficando expostas em um mural na entrada da escola.No final do evento, a comunidade escolar pôde levar uma bela flor com poesia para casa.
Também foram expostas lâminas (tapumes) compoemasque foram distribuídas pelopátio da escola, as quais permitiamseu uso para as pessoas tirarem fotos com os poemascom que se identificassem. O grupo também afixou, durante a mostra, o poema Canção daPrimavera,de Mário Quintana, juntamente com cata-ventos para chamar a atenção dos visitantes. Na Jornada Literária, o PIBID também pode expor outros trabalhos produzidos pelos alunos durante as oficinas, como marca-páginas poéticos e as flores mencionadas anteriormente.
           
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“[...] Porque a poesia purifica a alma”
(QUINTANA, 1998)

É notável, por meio do trabalho do grupo, que a poesia na escola pode ser muito atraente e apreciada pelos alunos, gerando conhecimento significativo tanto para o estudante quanto para o professor. A motivação demonstrada pelos acadêmicos, certamente, perpetuará nos alunos que se sentiram mais próximosdesse tipo de expressão artística, engendrando uma capacidade de leitura mais plena.
No final do projeto, os estudantes passaram a apreciar mais a leitura de poemas e se sentiram mais preparados para ler, declamar, interpretar e escrever poesias, expressando, dessa forma, seu lirismo e aumentando seu conhecimento de mundo e de si próprios.
Vale ressaltar que,se o professor não assumir o compromisso de mudança no trabalho com poesia, nenhum planejamento, por mais que tenha toda uma estrutura que supostamente lhe garantirá o sucesso, irá funcionar.
            O ciclo de poesias Poetizando demonstrou que o gênero poético pode ser abordado de maneira diferenciada e mais criativa em sala de aula, fazendo tanto o aluno quantoo professor apreciarem o trabalho com a poesia. 
Aos acadêmicos, as atividades proporcionaram o aprendizado, tanto teórico – base para as aulas –, quanto prático – na elaboração e execução das tarefas. Além de possibilitar um tipo de aprendizado, de conhecimento, que só é possível adquirir em sala de aula: o de como trabalhar esse tipo de atividade com os alunos, observando a reação deles e aprendendo a cativá-los por meio do ensino.
Aos alunos, o ciclo de poesia Poetizando proporcionou uma nova forma de vislumbrar a poesia, desmistificando a ideia de que poemas são um conjunto de rimas que tratam de amor ou dor; mostrando que a poesia é, sim, muito interessante e que pode ser, tranquilamente, trabalhada em sala de aula de forma cativante e divertida, fazendo com que os alunos sejam mais receptivos e se mostremmais atentos à poeticidade cotidiana. Essa prática desengessou possibilidades de leitura do texto poético, libertando os alunos da burocracia das formas e conduzindo-os à imprecisão da vida, outrora cantada por Fernando Pessoa.


REFERÊNCIAS

________. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.
ANITELLI, Fernando / Teatro Mágico. Segundo Ato, 2008.
BARROS, Manoel de. Retrato do Artista Quando Coisa, Editora Record, 1998.
CARVALHO, Laiz B. de. Gramática: uso e Interação / Laiz Barbosa de Carvalho. – 1. Ed. – São Paulo: Saraiva, 2006.
CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: Linguagens, 9º Ano - 5. Ed. Reform. – São Paulo : Atual, 2009.
GOLDSTEIN, Norma. Versos, sons, ritmos. São Paulo, Ática, 2001.
JOSÉ, Elias. A poesia pede passagem: um guia para levar a poesia às escolas. São Paulo: Paulus, 2003.
LAJOLO, M. Usos e abusos da literatura na escola. Porto Alegre: Editora Globo, 1982.
LUZ, Zé da. Brasil caboclo. 4. ed. João Pessoa: Acauã, 1988.
MEIRELES, Cecília. Reinvenção. In: Vaga música: poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994.
MOLLO, Glaúcia e NÓBREGA, Maria José. Biblioteca escolar: que espaço é esse? In Revista Salto para o Futuro - Ano XXI Boletim 14 - Outubro 2011.
PAZ, Octavio. El Arco y La Lira – El poema La Revelación Poética. Poesía e HistóriaMexico: Fondo de Cultura Económica, 1993.
PESSOA, Fernando. Obras Completas. São Paulo – Nova Aguilar, 2004.
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do trabalho científico: Métodos e Técnicas da Pesquisa e do Trabalho Acadêmico. Feevale: Novo Hamburgo, 2009.
PROENÇA FILHO, Domício.  A linguagem literária. SP: Ática, 1992.
QUINTANA, Mário. Nova Antologia Poética, Editora Globo - São Paulo, 1998.
QUINTANA, Mário. Canções, Editora Globo - São Paulo, 2005.
QUINTANA, Mário. Apontamentos de história sobrenatural. Porto Alegre: Globo, 1987.
REZENDE, N. etal. Linguagens, códigos e suas tecnologias: Conhecimentos de Literatura. – Brasília: Ministério da Educação, Secretária de Educação Básica, 2006.
ROTH, Otávio. Duas dúzias de coisinhas à toa que deixam a gente feliz. São Paulo: Ática, 1994.
SOARES, Magda. A escolarização da leitura infantil e juvenil in: EVANGELISTA, Aracy Alves Martins; BRANDÃO, Heliana Maria Brina; MACHADO, Maria Zélia Versiane (org.) Escolarização da leitura literária. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.



[1]Verso de Fernando Pessoa utilizado como título.
[2]Aluno do Curso de Letras Português/Inglês, Bolsista do PIBID de LetrasFeevale.
[3]Aluna do Curso de Letras Português/Inglês, Bolsista do PIBID de Letras Feevale.
[4]Aluna do Curso de Letras Português/Inglês, Bolsista do PIBID de Letras Feevale
[5]Aluna do Curso de Letras Português/Inglês, Bolsista do PIBID de Letras Feevale
[6]Aluno do Curso de Letras Português/Inglês, Bolsista do PIBID de Letras Feevale
[7]Aluna do Curso de Letras Português/Inglês, Bolsista do PIBID de Letras Feevale
[8]Professora coordenadora do PIBID Letras na Escola Técnica Estadual 31 de Janeiro de Campo Bom
[9]Professor Orientador do PIBID Letras na Universidade Feevale.
[10]Professora Orientadora do PIBID Letras na Universidade Feevale.

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